Quando Gabriel Mithá Ribeiro, ex‑deputado do Chega publicou, em 17 de outubro de 2025, um artigo de opinião no Observador, ele acusou o presidente do partido, André Ventura, de ser um “predador narcísico” que abusava do poder. A denúncia gerou uma onda de reações nos corredores da Assembleia da República e nas redes sociais, colocando em foco a crescente tensão dentro de um dos partidos mais controversos da política portuguesa.
Contexto interno do Chega
Fundado em 2019, o Chega chegou rapidamente ao Parlamento, capitalizando o descontentamento com a classe política tradicional. Desde então, o partido tem sido marcado por discursos polarizadores e por uma estrutura hierárquica centrada em torno de André Ventura, que exerce controle direto sobre as decisões estratégicas. Em meados de 2025, rumores de atritos internos começaram a circular, sobretudo após a criação de um governo‑sombra que mesclava ministros independentes e figuras do partido.
Esse governo‑sombra, anunciado em setembro, pretendia projetar a capacidade de governação do Chega caso conquistasse maior apoio eleitoral. No entanto, a decisão de excluir Mithá Ribeiro da lista de ministros foi vista como um sinal de que o líder estava consolidando poder e silenciando dissidência.
Acusação pública de Gabriel Mithá Ribeiro
No texto, Mithá Ribeiro descreveu a exclusão como “a última tentativa de assassinato cívico que eu poderia tolerar”. Ele escreveu ainda: “Esperava ‘alguns pesos pesados’, uma ilusão de que o Chega ainda poderia rumar à maturidade”. Segundo ele, a rejeição representou “a gota d’água que tornou cristalino o terror narcísico em que me afundava, e, pior, em que o país se afundará”.
Além da crítica ao líder, o ex‑parlamentar apontou a reforma do ensino como ponto sensível: “A elevada importância que atribuo à reforma do ensino não pode ser comprometida por uma liderança que se alimenta de narcisismo”. O artigo, que também continha uma breve divulgação de um novo podcast do Observador sobre as eleições presidenciais de 1986, terminou com um alerta sobre a direção que o país poderia tomar sob uma liderança autoritária.
Reação de André Ventura e da liderança
Alguns dias depois, a Rádio e Televisão de Portugal (RTP) noticiou a resposta oficial de Ventura. Em declaração curta, ele afirmou que “ninguém pode ficar ressentido por ser excluído de lugares”. A resposta foi amplamente interpretada como um desdém pelas críticas, sem abordar diretamente as acusações de abuso de poder.
Dentro do partido, fontes próximas a Ventura relataram que a estratégia de exclusão faz parte de um “processo de seleção” que visa manter a unidade disciplinar. Contudo, outros membros, que preferiram permanecer anônimos, disseram que a medida aumentou o clima de medo e que muitos temem represálias caso questionem a liderança.

Implicações para a política portuguesa
A crise no Chega tem potencial para reverberar em todo o espectro político. Analistas do Instituto de Ciências Políticas de Lisboa observaram que revelações públicas de conflitos internos costumam gerar perdas de apoio eleitoral, especialmente entre eleitores indecisos que buscam estabilidade. A última pesquisa da Marktest, divulgada em outubro, mostrou que o índice de aprovação de Ventura caiu de 19 % para 15 % nas duas semanas seguintes ao artigo de Mithá Ribeiro.
Além disso, a acusação de “predador narcísico” pode abrir espaço para investigações formais sobre abuso de poder dentro de partidos políticos, um tema que já foi objeto de debate no Parlamento após o escândalo de 2022 envolvendo outro líder de direita. Caso a acusação evolua para um processo judicial, o Chega poderia enfrentar sanções que afetariam sua capacidade de financiar campanhas e de registrar candidatos nas próximas eleições legislativas.
O que vem a seguir para o Chega
Até o momento, Mithá Ribeiro não anunciou planos de retorno ao Parlamento ou à vida partidária. Ele indicou apenas que continuará atuando como crítico externo, participando de debates televisivos e escrevendo colunas de opinião. Por outro lado, Ventura prometeu “reforçar a disciplina interna” e convocou uma reunião de diretoria para reavaliar a composição do governo‑sombra.
Especialistas sugerem que as próximas semanas serão decisivas: se o partido conseguir acalmar a crise, pode sobreviver ao desafio eleitoral de 2026; se não, arrisca perder vagas parlamentares e, possivelmente, sofrer fissuras internas ainda maiores.
- Data da denúncia: 17 de outubro de 2025.
- Data da demissão de Mithá Ribeiro do Chega: 22 de setembro de 2025.
- Partido envolvido: Chega – Partido de Cidadania e Identidade.
- Líder do partido: André Ventura.
- Veículo de publicação da denúncia: Observador.
Perguntas Frequentes
Por que Gabriel Mithá Ribeiro deixou o Chega?
Mithá Ribeiro anunciou sua saída em 22 de setembro de 2025 depois de ser excluído do governo‑sombra preparado por André Ventura. Ele considerou a exclusão "a última tentativa de assassinato cívico" que não podia tolerar, apontando também a direção autoritária do partido como motivo.
Qual foi a resposta de André Ventura às acusações?
Ventura, através da RTP, disse que "ninguém pode ficar ressentido por ser excluído de lugares". Ele não abordou diretamente os termos "predador narcísico" nem reconheceu abusos de poder.
Como a crise pode afetar as eleições de 2026?
Pesquisas recentes indicam queda na aprovação de Ventura, o que pode reduzir a base de eleitores do Chega. Caso a disputa internal se agrave, o partido pode perder vagas no Parlamento ou enfrentar sanções legais que limitariam sua campanha.
O que a imprensa tem dito sobre o futuro do Chega?
Analistas do Instituto de Ciências Políticas de Lisboa alertam que a falta de coesão interna pode levar a um declínio significativo nas próximas urnas. Outros comentadores veem a situação como um teste de liderança para Ventura, que precisará demonstrar capacidade de reconciliação.
Existe risco de investigação judicial contra o Chega?
Embora ainda não haja denúncia formal, as acusações de abuso de poder podem motivar pedidos de investigação ao Ministério da Justiça. Caso haja prova de conduta ilícita, o partido poderia enfrentar multas ou restrições de financiamento.