Na noite de domingo, por volta das 21h00, a A1 entre Soure e Condeixa-a-Nova tornou-se cenário de um dos acidentes mais graves da região este ano. Seis pessoas ficaram feridas — duas delas crianças — após um veículo descontrolado, possivelmente em contramão, colidir com outros automóveis. O acidente, ocorrido no quilómetro 175 da autoestrada no sentido sul-norte, deixou a via da direita cortada por horas e expôs falhas críticas na segurança de uma das principais artérias do país.
Uma noite de caos na A1
A primeira chamada de emergência chegou aos serviços da GNR por volta das 21h00. Inicialmente, foram reportados três feridos, incluindo uma criança de quatro anos. Mas a realidade foi mais grave: o ON Centro confirmou horas depois que seis pessoas estavam envolvidas, com duas crianças entre os feridos. Um dos veículos, segundo testemunhas, seguia em sentido contrário — um erro fatal que desencadeou uma sequência de colisões. "Foi como um filme de ação", disse um condutor que passou pelo local minutos depois, ainda tremendo. "Vi dois carros de frente, um deles virado de lado, com vidros espalhados como gelo quebrado." A ANSR confirmou que a chuva intensa caía na região na hora do acidente, reduzindo a visibilidade e tornando o asfalto escorregadio. Mas o fator decisivo parece ter sido o condutor em contramão. "Não é comum, mas quando acontece, é quase sempre catastrófico", afirmou um analista da segurança rodoviária ao Diário de Coimbra. "Ninguém espera que alguém venha de frente, a 120 km/h."As crianças e os feridos
Entre os feridos, uma criança de quatro anos e outra de oito anos foram transportadas em estado grave para o Hospital de Coimbra. A menina de quatro anos sofreu trauma craniano e fratura na perna. A outra, de oito anos, apresentou lesões no abdómen e foi submetida a exames de urgência. Os adultos feridos — dois homens e uma mulher — tiveram contusões e fraturas nos membros superiores. Todos foram socorridos pelo INEM e por equipas dos bombeiros de Soure, Condeixa-a-Nova e Coimbra.Os pais das crianças, segundo fontes hospitalares, estavam no veículo com elas. Um deles, de 38 anos, foi o único a conseguir sair do carro sozinho antes da chegada dos socorros. "Foi um milagre", disse uma enfermeira. "As crianças estavam nos assentos de segurança, mas o impacto foi brutal."
Um trecho da A1 com histórico de perigo
O trecho entre Soure e Condeixa-a-Nova já foi apontado por especialistas como de risco elevado. A estrada atravessa zonas rurais com curvas fechadas, sinalização deficiente em alguns pontos e pouca iluminação. Em janeiro deste ano, um acidente semelhante ocorreu no quilómetro 182, envolvendo três viaturas e dois feridos. Agora, em apenas 7 km, duas ocorrências graves em menos de 48 horas. E não é só a A1. No mesmo domingo, no IC2, em Soure, um acidente fatal deixou duas mortes e dois feridos graves. "É como se a região estivesse sob pressão", disse o engenheiro de tráfego Carlos Mendes, da Universidade de Coimbra. "Temos infraestrutura envelhecida, aumento de tráfego e pouca manutenção preventiva. A chuva só expõe o que já estava mal."O que as autoridades estão a fazer?
A GNR e a ANSR abriram inquérito para determinar a origem do condutor em contramão. As câmaras de vigilância da autoestrada estão a ser analisadas. Também se investiga se o condutor estava sob efeito de álcool, drogas ou se sofreu um mal súbito. Enquanto isso, o Ministério das Infraestruturas e Habitação anunciou que irá reforçar a sinalização nesse trecho da A1 até ao final do mês, incluindo novas placas de advertência e luzes de alerta em curvas. Mas os moradores da região já estão desconfiados. "Já pedimos isso há cinco anos", disse uma comerciante de Condeixa. "Sempre responderam que "está na lista". A lista não mata ninguém. Mas a estrada, sim."
O que vem a seguir?
Ainda não há previsão para a reabertura total da via. A via da direita permanece fechada para inspeção técnica e remoção de destroços. Os desvios estão a causar congestionamentos extensos nas ENs locais, especialmente na EN342 e na EN230. A ANAS prometeu reforçar a presença de viaturas de apoio e sinalização móvel nas próximas 72 horas.Enquanto isso, a comunidade local organiza um momento de solidariedade para as famílias afetadas. Um grupo de voluntários de Soure criou uma colecta para ajudar com despesas médicas e transporte. "Não queremos apenas mais placas", diz uma das organizadoras. "Queremos que ninguém mais sofra por causa de um erro que poderia ter sido evitado."
Frequently Asked Questions
Por que o acidente na A1 foi tão grave?
O acidente foi grave porque envolveu um condutor em contramão, o que significa que os outros veículos não tiveram tempo nem espaço para reagir. A chuva intensa agravou as condições, reduzindo a aderência dos pneus e a visibilidade. O impacto foi tão violento que vários carros foram atingidos em sequência, multiplicando os feridos. A ausência de barreiras de segurança eficazes nesse trecho também contribuiu para o dano.
Quais são os riscos recorrentes na A1 entre Soure e Condeixa-a-Nova?
Este trecho da A1 tem curvas acentuadas, pouca iluminação e sinalização desatualizada. Já registou pelo menos três acidentes graves nos últimos 18 meses, incluindo um fatal no IC2 em Soure no mesmo dia. A zona é rural, com tráfego misto — camiões, carros e motos — e muitos condutores desconhecem os perigos locais. A falta de manutenção preventiva e a pressão por mais infraestrutura tornam a região um ponto crítico para a segurança rodoviária.
Como as crianças conseguiram sobreviver com tantas lesões?
As crianças estavam corretamente acondicionadas em assentos de segurança homologados, o que reduziu significativamente o risco de morte. Embora tenham sofrido traumas graves, os sistemas de retenção impediram que fossem ejetadas do veículo. O facto de estarem no banco traseiro e o uso de cintos de segurança foram decisivos. Ainda assim, os ferimentos exigem cuidados prolongados e reabilitação.
Por que não há mais câmaras de vigilância nesse trecho da A1?
Apesar de ser uma das autoestradas mais movimentadas do país, a A1 tem lacunas na cobertura de câmaras, especialmente em zonas rurais como entre Soure e Condeixa. O Ministério das Infraestruturas reconhece o problema e planeia instalar 15 novas câmaras de alta resolução até ao final do ano, mas até agora apenas 30% do trecho está monitorizado. A ausência de vigilância dificulta a deteção de condutores em contramão e a aplicação de multas por excesso de velocidade.
O que pode ser feito para evitar acidentes como este no futuro?
Soluções urgentes incluem: instalação de barreiras de segurança mais resistentes, aumento da iluminação nas curvas, sinalização táctil no asfalto e alertas sonoros automáticos em zonas de risco. A longo prazo, é necessário um plano nacional de requalificação da A1, com prioridade para trechos com histórico de acidentes. Mas a mudança mais importante é a educação rodoviária — muitos acidentes em contramão resultam de confusão em saídas ou sonolência, e não de alcoolismo.
Há alguma ligação entre este acidente e o fatal no IC2 no mesmo dia?
Não há ligação direta entre os dois acidentes, mas ambos ocorreram no mesmo dia, na mesma região e sob condições meteorológicas semelhantes. Isso aponta para um problema sistémico: a região Centro tem uma taxa de acidentalidade rodoviária 23% acima da média nacional, segundo dados da ANSR de 2024. A combinação de estradas antigas, tráfego crescente e clima adverso cria um "efeito domino" que aumenta o risco de múltiplas ocorrências em curto espaço de tempo.